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Educação

Brasil: Bibliotecas insuficientes e os 80 anos da Joaquim Nabuco

Por: SIDNEY NICÉAS
No ano Ibero-Americano das Bibliotecas, o Brasil ainda deve aos cidadãos. Mas tem o que comemorar

Foto: Mahendra Kumar/Unsplash/Divulgação/Arte Tesão Literário

30/05/2021
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*por Sidney Nicéas

Este 2021 foi declarado como o Ano Ibero-Americano das Bibliotecas, na XX Conferência Ibero-Americana de Ministras e Ministros da Cultura da Ibero-América, realizada em 2019 em Bogotá (Colômbia). A iniciativa tem como propósito discutir e valorizar as bibliotecas nos países Ibero-Americanos enquanto instrumentos para o desenvolvimento. Mas nem parece que o Brasil faz parte disso, já que aqui as bibliotecas são poucas para o tamanho da população e sofrem com a ausência de ações mais efetivas do poder público. Mas há razões para comemorar. Indo além dos números, a gente destaca também os 80 anos de um dos mais importantes equipamentos de Pernambuco, a Biblioteca Pública Municipal Joaquim Nabuco, culminando com uma entrevista com o seu coordenador Natanael Lima, também poeta e editor do site Domingo com Poesia. Confira a seguir nossa matéria especial sobre as bibliotecas e esse aniversário da BPMJN, símbolo de uma palavra que cada vez mais se consolida na literatura brasileira: resistência.

 

LEITORES E BIBLIOTECAS

O Brasil precisa de mais leitores? Sim, todavia, o acesso ao livro é um desafio ainda maior – e, claro, impacta diretamente esse número de leitores, estimado em 67% na classe A, 63% na classe B, 53% na C e 38% nas D e E, segundo os dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2020. Esse cenário poderia ser muito melhor caso tivéssemos políticas públicas sérias para o livro. E mais ainda quando focamos nas bibliotecas, instrumentos vitais para a vida do livro junto à população.

Os números mais recentes sobre as bibliotecas no Brasil são de 2015 (pois é), com algumas atualizações pontuais por Estado. O país conta com 6057 bibliotecas públicas no Brasil (municipais, distritais, estaduais e federais, nos 26 estados e no Distrito Federal), liderado pela Região Sudeste com 1957 unidades (sendo 1948 municipais, 07 estaduais e 02 federais) e a Nordeste em segundo, com 1844 unidades (sendo 1826 municipais, 17 estaduais e 01 distrital). Em Pernambuco, são 181 bibliotecas (sendo 179 municipais, 01 estadual e 01 distrital - dados atualizados em 2020).

Nem precisa ser especialista para perceber que nosso país tem uma deficiência proporcional na quantidade de bibliotecas públicas em relação à sua população – 01 biblioteca para cada 33 mil pessoas. E a questão só piora quando falamos das escolas, públicas e principalmente particulares: 56,3% das escolas possuem uma biblioteca ou sala de leitura (quando o foco fica apenas nas bibliotecas, o número cai para 41% – dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica), representando somente 20% do local de leitura dos brasileiros (isso antes da pandemia, evidentemente). 

Segundo Deborah Echeverria, gerente-geral da Rede de Bibliotecas pela Paz, ligada ao Centro Comunitário da Paz (Compaz), em Pernambuco, há uma lei nacional cujas metas não foram atingidas, o que demonstra que a questão está longe de boa resolução. “Há dez anos foi aprovada a lei 224/10 de universalização das bibliotecas escolares, que preconizava que até 2020 todos os estabelecimentos públicos e privados de educação deveriam ter biblioteca. O período se esgotou e hoje só cerca de 41% das escolas no Brasil, entre públicas e privadas, oferecem este equipamento para seus alunos. Por ocasião da aprovação da lei, técnicos do Ministério da Educação fizeram cálculos que demonstravam a impossibilidade desta meta ser cumprida no tempo determinado. Seria necessário construir 25 bibliotecas por dia para alcançar a universalização do acesso a bibliotecas em todas as escolas do país”, explica. 

Deborah, que também é editora da Cubzac, acredita que a solução está, além da cobrança por melhores políticas públicas, no trabalho de conscientização e valorização do setor. “Na contramão dessas dificuldades, a partir de então, percebe-se no país um aumento da discussão sobre a importância da promoção da leitura, da formação de leitores e da ampliação do número de bibliotecas públicas, comunitárias e escolares. O Seminário Biblioteca nas Escolas, por exemplo, idealizado e realizado pela Editora Cubzac com patrocínio da Cepe (Companhia Editora de Pernambuco), está na sua quarta edição e tem como objetivo a conscientização da importância da biblioteca escolar para a formação de leitores, além da formação dos profissionais que trabalham nessas bibliotecas”, conclui.

 

JOAQUIM NABUCO

As palavras de Deborah Echeverria acabam fazendo interessante conexão com os 80 anos da Biblioteca Pública Municipal Joaquim Nabuco, localizada no Cabo de Santo Agostinho, terra em que o Brasil nasceu enquanto pátria. Num cenário tão complexo, chegar a oito décadas de atuação mostra que, sim, é possível buscar dias melhores. O equipamento é mantido pela Prefeitura da cidade, tendo como patrono ninguém menos do que Joaquim Nabuco, abolicionista, escritor, político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista brasileiro, formado pela Faculdade de Direito do Recife e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Em 2018, a biblioteca foi indicada pelo Sistema de Bibliotecas Públicas do Estado (SBPE) para participar do Projeto “Tô na Rede”, de âmbito nacional, patrocinado pela Fundação Bill e Melinda Gates, escolhida entre as cinco (05) mais atuantes Bibliotecas Públicas do Estado, evento este acontecido no Rio de Janeiro (RJ).

Para o coordenador do espaço, Natanael Lima, é uma vitória chegar a oito décadas com uma atuação tão rica. “A Biblioteca Joaquim Nabuco é um patrimônio vivo da população cabense e do estado, que há oito décadas vem formando leitores”, comemora. Segundo Natanael, que também é pedagogo, poeta, produtor cultural, editor do site DCP e da Imagética Edições, o  espaço vem buscando se modernizar e, principalmente, se aproximar dos estudantes. “Há 06 anos realizamos o projeto Minha Biblioteca que Lê, que estimula o gosto pela leitura e pela escrita, promovendo ações de contação de histórias, rodas de poesias, oficinas literárias, concursos de poesia, apresentações artísticas, lançamentos de livros, palestras, encontros com poetas e escritores da região, exposições, escambos, mostras de cultura popular, dentre outras. As bibliotecas são espaços vivos de interação de saberes, não mais espaços voltados para depósitos de livros velhos. As mudanças ocorreram e continuarão ocorrendo”, conclui.

A gente bateu um papo com Natanael Lima sobre a situação atual e o futuro das bibliotecas no país, sobre a relevância do acesso à leitura e, claro, sobre os 80 anos da Biblioteca Joaquim Nabuco. Leia a seguir.

 

TESÃO LITERÁRIO- O QUE REPRESENTA OITO DÉCADAS DE UMA BIBLIOTECA PÚBLICA NUM PAÍS COMO O BRASIL?

NATANAEL LIMA- Representa muito, para a nossa cidade, para o estado e para o país. Resistir oito décadas é motivo de orgulho, alegria e esperança, principalmente num país que não investe em políticas públicas de incentivo à leitura. As bibliotecas são verdadeiros espaços integradores de saberes e de inclusão social. O seu papel é evidenciado na transformação de vidas de jovens em situação vulnerável, na vida das crianças que se alfabetizam, na vida de mães, pais e avós que retomam o hábito da leitura, entre tantos outros benefícios que são proporcionados por estes equipamentos públicos, sobretudo por meio da leitura e o acesso ao livro.

 

TL- QUAIS OS IMPACTOS QUE A BPMJN CONSEGUE MEDIR NA CIDADE (NÃO APENAS NA VIDA DOS ESTUDANTES, MAS DA POPULAÇÃO EM GERAL), NESSES 80 ANOS DE ATUAÇÃO?

NL- Não temos como mensurar com profundidade esses impactos, mas temos a total convicção da sua importância na sociedade, como espaço de multiplicação de saberes e de inclusão social. A Biblioteca P. M. Joaquim Nabuco é um patrimônio vivo da população cabense e do estado, que há oito décadas vem formando leitores.

 

TL- HÁ MUITO JÁ SE ENTENDE QUE AS BIBLIOTECAS NÃO SÃO MEROS ESPAÇOS COM LIVROS, MAS ESPAÇOS VIVOS PARA A VIDA LITERÁRIA. O QUE VEM SENDO FEITO NA BPMJN PARA SE ADEQUAR A ESSE MODELO?

NL- A palavra “biblioteca” tem sua origem do grego biblíon (livro) e teke (caixa, depósito), portanto um depósito de livros (HOUAISS, 2001). Desde as primeiras bibliotecas, essa palavra tem sido empregada para designar um ‘local onde se armazenam livros’. A biblioteca moderna, nascida na Renascença, trouxe também o bibliotecário como um profissional reconhecido. Até meados do século XIX as bibliotecas empregavam intelectuais e escritores para esta função. Porém, devido à especialização do público e, consequentemente, do acervo, sentiu-se necessidade de um profissional com formação especializada que pudesse tratar tecnicamente os materiais existentes. Atualmente as bibliotecas contam (ou deveriam contar) com recursos tecnológicos que possibilitam ao profissional comunicar-se com os usuários virtualmente, agilizar o processamento técnico, disponibilizar informações sobre o acervo etc, podendo ser acessado por inúmeros usuários ao mesmo tempo em qualquer parte do mundo. Hoje, o objetivo de uma biblioteca é disponibilizar informações. As bibliotecas são espaços vivos de interação de saberes, não mais espaços voltados para depósitos de livros velhos. As mudanças ocorreram e continuarão ocorrendo, portanto, cabe aos profissionais reverem e refletirem sobre as suas práticas, avaliando as atividades e os serviços de informação, quer seja introduzindo novos elementos ou mantendo práticas tradicionais que servem para atender as necessidades dos seus usuários. Neste contexto, a partir do ano de 2015, a Biblioteca Pública Municipal Joaquim Nabuco desenvolve o Projeto Pedagógico de Incentivo à Leitura “MINHA BIBLIOTECA QUE LÊ”, que visa através dessas atividades o incentivo ao gosto pela leitura e a escrita, prioritariamente voltada aos alunos da Rede Pública Municipal, promovendo ações de contação de histórias, rodas de poesias, oficinas literárias, concursos de poesia, apresentações artísticas, lançamentos de livros, palestras, encontros com poetas e escritores da região, exposições, escambos, mostras de cultura popular, entre outras ações.

 

TL- NO SENTIDO DA PERGUNTA ANTERIOR, ANDA FALTANDO UMA MAIOR PRESENÇA DOS AUTORES NAS BIBLIOTECAS? COMO A BPMJN TEM TRABALHADO ESSA MEDIAÇÃO LIVRO-AUTOR-LEITOR?

NL- Não tenho como te apresentar dados precisos sobre essa questão, mas tenho obtido informações das bibliotecas que integram o Sistema de Bibliotecas Públicas de Pernambuco (SBPPE), que hoje há uma maior interação e participação dos autores locais na vida cotidiana desses espaços. Em relação a nossa biblioteca, desde a implantação do referido projeto, temos vivenciado uma grande interação com os autores locais, regionais e do estado, com lançamentos de livros, oficinas literárias, rodas de leituras, debates, etc, buscando minimizar a distância entre “autor-livro-leitor”.

 

TL- ALÉM DE COORDENADOR DA BPMJN, VOCÊ TAMBÉM É POETA E EDITOR DO SITE DOMINGO COM POESIA, QUE COMPLETA 10 ANOS DE ATUAÇÃO. DIANTE DESSA EXPERIÊNCIA LITERÁRIA NO REAL E VIRTUAL, COMO VOCÊ ENXERGA O FUTURO DO LIVRO E DA LEITURA?

NL- Pergunta complexa e instigante. Mas tentarei dentro das minhas limitações responder ao nobre entrevistador. Todas as atividades que no presente desenvolvo são prazerosas e edificantes. Há uma profunda relação com o livro e a leitura, isso é muito gratificante desenvolver e proporcionar meios de incentivar à leitura, seja no campo físico ou virtual. Coordenar hoje a Biblioteca P. M. Joaquim Nabuco é uma grande satisfação, pois estou realizando um antigo sonho de trabalhar e desenvolver atividades integradoras e multiplicadoras de saberes, como deve ser uma biblioteca. Como já diria Guimarães Rosa, “Narrar é resistir”, ou como diria a máxima, “Os livros são perigosos, mudam as pessoas e as pessoas mudam o mundo!”. Eu sou um otimista para o “futuro do livro ou o livro do futuro”, seja ele adequado a nova realidade tecnológica (e-book) ou tradicional (impresso). A leitura e o contato com os livros possibilitam às pessoas que tenham acesso ao saber, aos conhecimentos formais; e ter acesso a esse tipo de conhecimento permite ao indivíduo que ele participe do mundo, compreenda-o melhor, encontre nele o espaço; assim como apropriar-se da língua, enriquecendo o seu vocabulário e a sua linguagem escrita, permitindo-o o ato de “tomar a palavra”, tendo uma cidadania mais ativa e plural.

 

TL- AMPLIAMOS A PERGUNTA ANTERIOR: COMO VOCÊ ENXERGA O FUTURO DAS BIBLIOTECAS? O QUE PRECISA SER FEITO PARA QUE SE MANTENHAM ENQUANTO TEMPLOS VIVOS DO LIVRO?

NL- Não investir em políticas públicas de incentivo à leitura e em bibliotecas é uma decisão política. O que se observa neste país é que não há interesse em se formar cidadãos críticos, conscientes do seu mundo e da sua realidade, ou em permitir a existência de espaços de encontro, de sociabilidades e de interação de saberes. As bibliotecas são patrimônios da sociedade, são espaços de resistência e de cidadania. Por isso é tão necessária a existência das nossas bibliotecas! Não são apenas “templos”, mas espaços vivos, que representam resistência dentro da atual proposta de desmantelamento da educação e da cultura nacional.

 

TL- ENTÃO QUAL O REAL PAPEL DO ESTADO (MUNICÍPIOS, ESTADOS E FEDERAÇÃO) EM RELAÇÃO À LITERATURA DE FORMA GERAL?

NL- Segundo a Constituição Federal, a principal lei do país, a Educação é um direito social, assim como a saúde, o trabalho, a moradia. Mas quem é o responsável por garantir o ensino de qualidade para todos? O próprio documento traz algumas respostas para estas perguntas, mas nem todas muito precisas. A lei define que o município cuida da Educação Infantil e também do Ensino Fundamental 1; o Ensino Médio é prioridade do governo estadual e do Distrito Federal, mas eles também gerem o Ensino Fundamental 2. A União, por sua vez, fica com função de coordenação financeira e técnica dessa engrenagem, ao mesmo tempo em que conduz as universidades federais. A literatura é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo do aluno. Principalmente quando estimulada na educação infantil, desperta o interesse e o gosto pela leitura; a importância de ouvir histórias, narrativas, contos, poemas etc, promovendo a participação e a socialização do aluno, desenvolvendo o senso crítico e a criatividade. Quanto mais cedo desenvolvermos essas práticas, maiores e melhores serão os resultados. Portanto, o contato com a literatura é essencial para sua formação, é um instrumento de comunicação e interação que transmite conhecimentos.

 

TL- O LIVRO DÁ SENTIDO À VIDA? COMO FOI E TEM SIDO A SUA EXPERIÊNCIA COMO ELE, O LIVRO?

NL- Sim. Os livros são capazes de transformar a vida das pessoas. O livro é uma das maiores invenções que o homem tem acesso. Por meio do livro são transmitidos conhecimentos culturais de diversos povos e a história do homem não só é preservada como também transmitida de geração para geração. Alguns romances abordam temas universais, como o amor, a morte, a vida, a paz, a guerra, vitórias, derrotas, traições; e são capazes de influenciar o espírito humano. Como pedagogo e escritor, vejo no livro a ferramenta mais eficaz na hora de adquirir conhecimentos. Ele é fundamental desde o primeiro ano de vida. Os livros infantis são extremamente necessários para o desenvolvimento cognitivo das crianças, sendo essenciais até mesmo antes da alfabetização. Ao iniciar uma contação de histórias, começamos a estimular a imaginação, a concentração, o raciocínio, além do vocabulário. Já nos primeiros anos escolares, o livro vai ajudar no aprendizado da escrita e da leitura, no entendimento das relações sociais e afetivas, bem como na absorção de conhecimentos gerais.

 

TL- A REALIDADE POLÍTICA NACIONAL TEM HOJE ARES INIMAGINÁVEIS DE UMA FICÇÃO RUIM, AINDA MAIS QUANDO SE FALA DE CULTURA. O QUE FAZER PARA MUDAR ISSO?

NL- Como afirmei anteriormente, vivemos momentos de desmantelamento da educação e da cultura nacional. É uma realidade cruel e sem precedentes. Quando penso em tudo que o Paulo Freire deixou como legado para a sociedade brasileira, e tudo sendo destruído por uma política perversa e desumana... O desmonte que estão realizando não é só com a Educação, mas contra todo o pensamento crítico. Freire está aí sempre atual, quando diz: “A educação como intervenção inspira mudanças radicais na sociedade, na economia, nas relações humanas e na busca dos direitos, ou seja, uma sociedade sem educação não evolui”, e eu modestamente acrescentaria, sem educação e cultura nada evolui. Portanto, é fundamental estudar a história da educação em seus mais diversos contextos, pois ela proporciona o conhecimento do passado, criando assim novas perspectivas para o futuro.

 

TL- AS BIBLIOTECAS SONHAM COM O QUÊ?

NL- Sonham com as transformações políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo. Sonham e lutam para realizarem um serviço público de referência, que venham atender aos interesses da coletividade, sem fazer distinção de condição social, de raça, crença, gênero, cor, etnia, orientação sexual ou nacionalidade, para que assim ela possa despertar nas pessoas a consciência da participação social de cada indivíduo. Por fim, sonham em melhores condições de trabalho para poder oferecer à comunidade serviços de qualidade relacionados à cultura, ao incentivo à leitura e a formação de cidadãos críticos e aptos a contribuir no desenvolvimento da sua comunidade.

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