Conexão RJ: A melhor sensação do mundo

Foto: James Gathany/CDC Public Health Image Library/Wikimedia Commons
*por Renato Sousa
Sexo? Não, não! Depois de tudo que nós passamos nestes últimos meses – pandemia, fila na vacinação, dose de reforço, home office, máscaras e tantas outras chatices – cheguei à seguinte conclusão: Sexo não é a melhor coisa do mundo. Repito: sexo não é a melhor coisa deste planeta. Antes eu até pensava isso, agora não tenho mais dúvida: a melhor coisa do mundo é poder espirrar em paz!
Agatha Christie, brilhante escritora inglesa, tem um livro – não me lembro o nome – onde um personagem ao espirrar acaba se autodenunciando ao policial que o interrogava. Ele jurava que não era culpado e que nunca esteve na cena do crime. Quando o policial se convence de sua inocência, ele espirra e põe tudo por água abaixo. De inocente passa a suspeito principal do crime. A História gira 180 graus, um espirro o entregou. Que espirro maldito! Só mesmo a mente da escritora inglesa para imaginá-lo. Que perspicácia magistral!
Guardando as devidas proporções, foi mais ou menos isso que passei durante estes últimos meses aqui no Rio de Janeiro. Medo de que qualquer espirro meu viesse a me entregar aos abutres de plantão. Quando tinha vontade de espirrar, prendia tudo para não desaguar no local errado, na hora errada, com pessoas que se achavam médicos especialistas em espirros. Isso foi macabro. Do nada o Brasil passou a ter 211 milhões de médicos capazes de diagnosticar aquela maldita doença (COVID) através de um simples espirro. Época triste, filme triste – como cantava o trio Esperança um tempinho atrás. Zero saudade daqueles meses.
Lembro até que no ano passado, no meio da confusão da pandemia, resolvi visitar minha tia que mora no bairro vizinho ao meu. Decidi ir de metrô. Aqui no meu prédio, ao entrar no elevador, um aroma de perfume dominava o ambiente. Eu, muito alérgico a perfumes, já comecei a coçar o nariz. Espirrar no elevador? Nem pensar, seria linchado sem piedade! Segurei, vai passar – passou. Andei com pressa, rapidamente transpassei a roleta do metrô. A composição vinha chegando na estação, dei sorte. Corri e entrei no vagão. Estava lotado. Só entrei porque uma moça saiu – tipo ela vem, eu vou, senão não daria. Quem conhece a realidade do metrô carioca sabe o que eu estou querendo dizer. Dois minutos depois veio a vontade de espirrar. Reflexos daquele maldito perfume do elevador. Segurei. Uma estação, duas estações… cheguei. Deixei o vagão correndo para poder espirrar. Não deu, tinha muita gente olhando. Disfarcei, corri pela escada rolante, lá fora finalmente espirrei. O povo olhou, mas espirrei! Apressei o passo e fui para casa. Que alívio!
Hoje apenas seguro o espirro ao andar de moto; não dá para espirrar pilotando uma moto. É uma coisa confusa, meio chiclete com banana do Jackson do Pandeiro, não tem nem como descrever. Se espirrar, você fechará os olhos, se fechá-los você poderá provocar um acidente, então, resumindo, não dá. É melhor segurar mesmo. Capacete não combina com espirrar – água e óleo não se misturam!
Falando nisso tudo, bem que o Governo podia criar um espirródromo – lugar designado para você espirrar em paz, livre de qualquer olhar indiscreto. Um local arejado que tivesse uma plaquinha “Espirra meu filho, espirra!” e você, tranquilo, convicto, soltaria aquele espirro que liberta de tudo que é ruim desta vida. Espirro libertador! Como diria minha amiga psicóloga Maísa, deixaria fluir tudo que faz bem a sua alma e você já não estaria mais oprimido pelo preço do tomate! Aliás, esqueceria todos os preços; toda inflação que assola nossas cabeças ultimamente! Espirrando você conquistaria um passaporte para a felicidade divina. No espirródromo as pessoas experimentariam a verdadeira democracia. Eu espirro, tu espirras, ele espirra, nós espirramos, vós espirrais, eles espirram e tudo fica por isso mesmo, sem o julgamento de ninguém.
Que coisa maravilhosa espirrar! Melhor sensação do mundo!
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Prof. Renato Ferreira de Sousa é administrador, professor da Universidade Federal Fluminense, gestor de carreiras e mentor de talentos.
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