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Opinião

Conexão SP: I.B., o Influencer de Boteco

Por: SIDNEY NICÉAS
Mário Viana traz um texto bem humorado sobre o “Influencer de Boteco” e suas características únicas e essenciais.

Foto: Fred Moon/Unsplash

20/11/2023
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*Por Mário Viana

Adoro observar a fauna urbana que me cerca. Ainda bem, senão eu seria um dramaturgo e roteirista falidíssimo. Além de já ser um vício incontornável, ficar de olho no entorno garante os caraminguás no fim do mês. Foi assim que, ainda outro dia, registrei atentamente o comportamento de um amigo numa mesa de bar. Fascinado, me vi diante de um Influenciador de Boteco no pleno exercício de sua eufórica função.

A bem da verdade, foram três ocasiões, cada uma num boteco distinto, em diferentes bairros da cidade, mas tendo como protagonista o Fê (paulistas só chamam a pessoa pela primeira sílaba do nome, exceção feita aos Custódios). Nas três situações, Fê agiu da mesma maneira: juntou gente que não se conhecia e que se entendeu muito bem, o que já é uma arte em si. E tratou os garçons com uma intimidade, digamos, bastante atrevida. Pro meu espanto inicial, os garçons se divertiam.

Ser um Influenciador de Boteco (I.B.) não é pra qualquer um. Querer não basta. O dom de agregar pessoas e ficar muito à vontade é apenas um dos itens necessários à tarefa. Conhecer todas as cervejas só de observar a espuma no copo conta pontos. Ter na ponta da língua o cardápio de petiscos também agrega valor. E se chegar ao requinte de recomendar especificidades (“Pede o pastel de queijo de búfala, o de queijo prato está esquisito hoje”), um I.B. atinge o olimpo.

Vivemos a Era do Sistema I, cujo dicionário até o momento consta de três itens: a I.A. (Inteligência Artificial), o I.B. (Influencer de Boteco) e o I.C. (Inspetor do Fiofó Alheio), de nome auto-explicativo. Como, minha senhora? Fiofó não começa com C? Pense nos sinônimos, madame, nos sinônimos!

Dos três, o mais legal, disparado, é o I.B. A Inteligência Artificial assusta todo mundo (pelo menos, deveria) e o Inspetor do vocês-sabem-o-quê merece um esfrega bem dado pelo simples fato de perder tempo com a anatomia íntima de quem nunca lhe pediu opinião.

Influencer de Boteco não cria enrosco. O IB está sempre de bem com a vida. Quase sempre, pelo menos. O cargo não é, nem deve ser, vitalício. Muitas vezes, o IB de hoje é o sujeito que amanhã vai apenas saborear seu chopinho na santa paz do senhor. IB-raiz curte o boteco como um todo e não é de disputar espaço. Ele só reclama se o bolinho vier murcho e o chope, quente. Ou se o garçom esquecer seu nome.

O teste de fogo pra ser um IB Platinum Plus é o pilequinho. Um IB que se dê ao respeito bebe bem, fica alegre, anima a mesa – mas nunca, em tempo algum, se torna um bêbado chato. Sabe aquele que abraça quem está ao lado, declara amizade eterna e, sem maiores, compra briga com meio bar? Um IB Real jamais dará um vexame desses.

Você nunca verá um IB chorando sua dor de corno na mesa. Ele pode até sofrer de pé-no-bundismo, mas com elegância. A tristeza aparece discreta no fundo do olhar, no momento do brinde ou quando alguém com violão toca Evidências (a Andança dos tempos atuais, com sua capacidade de levar todo mudo a soltar a voz como se não houvesse tímpanos a respeitar). Nossa herói sobrevive a tudo isso. Por fora, o IB sorri como o palhaço na ária de uma ópera de Leoncavallo: Ridi, pagliaccio! Viram? Um Influencer de Boteco tem suas luzes.

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Mário Viana é Dramaturgo, autor-roteirista de novelas, cronista, jornalista. Paulistano.

https://vianices.wordpress.com/

https://www.instagram.com/marioviana

https://www.facebook.com/mario.viana.948

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