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Literatura

Crianças de hoje: um caso à parte…

Por: SIDNEY NICÉAS
Cem Anos de Solidão e as histórias da sua filhinha fazem Sidney Nicéas acreditar que nosso cérebro está em evolução

Foto: Sidney Nicéas

16/01/2022
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*por Sidney Nicéas

Daqui a algum tempo as crianças vão nascer falando, só pode. Levei cinco anos só pra abrir os olhos e os danadinhos hoje já nascem olhando pra gente, faltando só verbalizar o porquê de os tirarem do bem bom pra essa danação aqui! Falo com experiência de causa. Fui pai aos 22 e depois aos 43. E é impressionante o que a pirralhada evoluiu desde que me vi gente. Se Victor, o mais velho, já está com 24, Maya, a caçula, tem 03. E tira onda no desenvolvimento intelectual.

Acredito que estejamos passando por uma fase de evolução física (a moral, se tiver em curso, só vai ser possível conferir mais pra frente). O nosso cérebro passa por um upgrade - afinal, se só vínhamos usando 10% dele (no máximo!), a coisa precisa melhorar mesmo. É tanta informação, conectividade, virtualidade que as gerações posteriores à minha vêm dando caldo nos quarentões como eu - por outro lado, os jovens de hoje carregam um peso muito maior do que deveriam; talvez a “turma do meio” que acaba adubando o terreno pros que vêm. Talvez.

Ontem Maya tomava banho comigo no chuveirão, aqui na praia onde estamos veraneando, cujas paredes são de tijolo aparente. Ela me olhou “do nada” e perguntou: Papai, o certo é tijôlos ou tijólos? (os acentos são só pra você entender a tonicidade da pergunta). Respondi que o correto é tijólos. Ela disse: Entendi, papai. Fiquei pensando que com 03 anos de idade eu nem sabia o que era um tijolo, quanto mais o plural! E não ficou por aí. Ela entrou em casa e a mãe a chamou pra lanchar, Venha que tem frutas aqui pra mamãe te dar. Ela: Mamãe, deixa que eu resolvo sozinha! Semana passada ela me perguntou: Papai, o que é “penascaro”? Eu: Onde tu ouvisse essa palavra, Maya? Ela: Eu escutei das palavras da minha cabeça…

São pequenos exemplos dentre os inúmeros que não dá pra relatar aqui. Ilustram de alguma forma essa teoria da evolução, onde as crianças estão além do que a maioria de nós estivemos. E quando falamos na intimidade com a tecnologia a coisa se amplia - mesmo que, no caso de Maya, eu e a mãe ainda limitemos bastante as interações dela com dispositivos eletrônicos, por questões de educação mesmo - tudo tem sua hora, acreditamos (nessa fase, contar histórias, ler livros, sentar e fazer desenhos e pinturas têm poder muito maior do que um celular às mãos, por exemplo).

Nesse aspecto tecnológico, afunilando o assunto pra questão do livro e da leitura, lembro que a Universidade de Stavanger, na Noruega, divulgou um estudo no ano passado que apontou que quem lê em meios físicos absorve melhor o conteúdo do que quem lê em meios digitais. Comentei isso com meus irmãos-escritores Carlos Sierra e Geórgia Alves, num painel que fizemos na Bienal de Paulista (PE), em novembro último. E o colombiano foi enfático: isso está mudando. As novas gerações estão nascendo muito mais preparadas para os meios digitais do que nós. Concordamos na hora, eu e Geórgia. Minhas dificuldades com leituras digitais que o digam. As habilidades de Maya também nesse aspecto, mesmo com as limitações impostas citadas acima, mais ainda.

E já que o assunto agora é a leitura, escrevo sobre isso em meio à leitura de Cem Anos de Solidão (livro físico!), de Gabriel García Márquez. Macondo e seus extraordinários personagens são um prato cheio pra Maya, aquele mundo hiperbólico em muitos sentidos, com gente estupidamente humana e absolutamente incrível fazendo coisas além do ‘normal’. Fico pensando se ela, quando um dia ler esse clássico da literatura, vai pensar, como eu, que Macondo é uma espécie de futuro da humanidade (só que ainda mais embebida na tecnologia), onde a vida é tão comum quanto o realismo mágico pode supor. Será?

 

*Eu aqui finalizando esta crônica, minha mulher indo pro mar me dá um beijo. Maya fala, na lata: Ownnnnnn… Que fofinhos… (posso com isso?)

Sidney Nicéas é editor do Blog Tesão Literário. Escritor, tem cinco obras publicadas. Colunista de Literatura das Rádios CBN e Transamérica CNN, preside a Ideação, co-realizadora da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. É sócio-fundador da UBE Olinda (PE). Prepara dois romances para breve, um biográfico e outro de ficção. Também é Relações Públicas com MBA em Gestão de Pessoas, Pós-Graduado em Escrita Criativa e titular da própria assessoria de comunicação, a Sidney Nicéas Comunicação Integrada. Ministra oficinas e workshops de criatividade e escrita e ainda integra os projetos sociais Sertânia Sem Fome e Mundo do Lua, além de promover diversas ações que visam a inclusão social pela Literatura.

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