Guerra em Israel: Daniela Kresch e a intimidade com a guerra

Foto: Meu pai, em 1958, quando Israel tinha dez anos, passou um mês num kibutz na fronteira da Faixa de Gaza. Hoje, esse kibutz está completamente arrasado. Na foto: Daniela Kresh Jornalista. Arte Veragora.
Por Cristina Vaz de Carvalho
Reprodução do semanario Jornalistas&Cia. Edição 1.431 - 11 a 17 de outubro de 2023
A jornalista brasileira Daniela Kresch S. mora em Petah Tiqwa, Israel. Correspondente internacional no Oriente Médio desde 2003, realizou coberturas jornalísticas para GloboNews, Folha de S.Paulo, Rádio França Internacional em português (RFI) e BBC Brasil. Foi acionada por diversos meios de comunicação no Brasil nos últimos dias. Aqui ela nos conta o que tem passado com sua família e sua relação com a profissão.
A cidadã
“No dia 7 de outubro, às 7h30 da manhã, tocou uma sirene antibomba aqui na minha casa, numa cidade próxima a Tel Aviv. Era um sábado, um Shabat, feriado judaico. Acordei e fui para um minibunker que tenho dentro de casa: um dos quartos é reforçado com concreto. Fui para esse quarto, o que é a orientação das forças de segurança quando isso acontece. Minha filha de 15 anos dorme nesse quarto, e ficamos lá. Esperamos dez minutos e achei que ia ficar só por isso mesmo, porque o Hamas – esse grupo terrorista sanguinário e odiento – lança bombas e foguetes indiscriminados contra a população civil israelense há mais de 20 anos.
Israel desenvolveu uma espécie de script de segurança contra esses ataques, com quartos reforçados que são obrigatórios nas casas, nos prédios novos e também um sistema antiaéreo chamado Domo de Ferro. Os jornalistas se sentem mais ou menos seguros quando há ataques aéreos, mas volta e meia morre alguém. Como eu sempre digo: é como um jogo de Batalha Naval. Eles lançam indiscriminadamente alguma bomba em cima da população civil e, de vez em quando, pega. Destrói uma casa, coloca fogo e morre alguém. Então, é praticamente seguro, mas não é cem por cento seguro esse sistema antiaéreo e esses quartos protegidos.
Ainda dentro do quarto, comecei a perceber que a situação não era a mesma. Não era só antiaéreo, mas um ataque terrestre, marítimo também, o que nunca aconteceu em Israel. Nunca houve uma invasão do solo israelense da Faixa de Gaza desde 1948, desde a criação do Estado de Israel e da Guerra de Independência.
As informações demoraram muito, muito, para chegar. Ninguém entendia o que estava acontecendo e havia uma espécie de fog midiático, todo mundo meio sem saber. No sábado, as pessoas religiosas nem atendem ao telefone, não veem notícia, nem ouvem rádio, nem entram na internet. Mas aos poucos as coisas começaram a clarear, e a gente começou a ver o escopo da tragédia e do massacre que os terroristas fizeram contra cidadãos inocentes, indefesos, que moravam em pequenas comunidades, vilas de 200 a 300 pessoas, e que ficam em volta da fronteira com a Faixa de Gaza.
Estive várias vezes nessas comunidades, são o que chamamos de kibutz, conheço muita gente lá. São cooperativas agrícolas – hoje são menos agrícolas –, comunidades de esquerda, com base socialista, que foram criadas em Israel antes da criação inclusive do próprio Estado. Muitos latino-americanos que vieram para Israel em busca de uma nova vida e judeus que tinham fugido para o Brasil resolveram vir para cá, um Estado em que os judeus fossem maioria, para se sentirem seguros depois do Holocausto. Para construir um novo país, com toda a ideologia que havia na época.
Meu pai, em 1958, quando Israel tinha dez anos, passou um mês num kibutz na fronteira da Faixa de Gaza. Hoje, esse kibutz está completamente arrasado. Estou abalada emocionalmente, estou sempre a dois níveis de quem conhece alguém que foi morto ou sequestrado – e esse é outro caso trágico. Israel é muito pequeno, com menos de dez milhões de pessoas, do tamanho de Sergipe. Todo mundo se conhece, sente essa solidariedade com o que aconteceu.
As pessoas de lá são amantes da paz. Sempre pediram ao governo para prestar atenção ao que acontece na Faixa de Gaza, faziam tudo para empregar os trabalhadores palestinos que vinham de Gaza para Israel.
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